Wilson Aragão patrimônio da nossa cultura

29 de maio de 2025 às 16:31

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O cantor e compositor baiano Wilson Aragão, nos deixou neste sábado 24 de maio de 2025, aos 75 anos. Aragão era natural da cidade de Piritiba que ficou famosa com a música Capim Guiné, composição do próprio Wilson gravada por Raul Seixas.
 

cantor e compositor baiano Wilson Aragão
@ Reprodução/Instagram @wilsonaragaooficial
 
Conheci Wilson Aragão em 1994 quando trabalhava no Sindicato dos Músicos do Estado da Bahia. Aragão foi algumas vezes no sindicato e eu acabava puxando assunto com o mestre, pois tinha ciência da grandeza desse artista para a música brasileira. Aragão sempre muito gentil e atencioso conversava e contava histórias das suas andanças pelo Brasil.
 
Entre uma conversa e outra Aragão cantava suas modas e a primeira que destaco é a canção Guerra de Facão (também gravada por Zé Ramalho) que tem um trecho muito emblemático: “A dô do jegue, tadin nasceu sem chifre, a dô do chifre é num nascer em certa gente, a dô da gente é confiá demais nos outro, a dô dos ôto é que nem todo mundo é besta”. Aragão com “sabidoria” nos mostrava a complexidade da vida e das relações humanas e as dificuldades enfrentadas pelo povo nordestino.
 
A música Capim Guiné está no imaginário do cancioneiro popular, seu refrão: “Num planto capim-guiné prá boi abaná rabo, tô virado no diabo, tô retado com você, tá vendo tudo e fica aí parado, com cara de veado que viu o caxinguelê” é muito cantado, sobretudo, nas festas de São João pelo Nordeste brasileiro. Essa canção nos mostra a vida no sertão e a árdua jornada de um agricultor que, com muito esforço, planta e cuida de um sítio no sertão.
 
Em Sertões e Sertões, Wilson Aragão canta: “Minha sina de ser um filho da terra e viver pelo mundo, que não é meu, vai pensamento corta esse céu, leva o amor e traz a poesia para o meu cancioneiro, fico na estrada pisando a lembrança de tanta vivência, sentindo a ausência dos meus companheiros, que em tempo passados, pisaram na estrada e até nunca mais”. Aragão apresenta em sua obra tudo o que a sociedade capitalista descarta e considera inútil.
 
Wilson Aragão foi um poeta do Brasil profundo, poeta dos trabalhadores rurais, interprete das dores, cores e sabores do Sertão da Bahia, alguém que respeitava imensamente a relação do ser humano com a natureza. Vá em paz grande mestre, sua contribuição para formação da nossa cultura continuará presente sempre. Viva Wilson Aragão!
 
Por Ivandilson Miranda Silva, doutor em Educação e Contemporaneidade pela UNEB e Mestre em Cultura e Sociedade pela UFBA. Professor. E-mail: ivanvisk@gmail.com