Jornalistas escolhem versões dos fatos que parecem mais adequadas ao país, a si ou a grupos, versões estas que às vezes se transformam em pontos de partida não por estarem mais próximas da realidade dos fatos, mas por atenderem a interesses dos seus controladores.

Lula e Janja durante a cerimônia de boas-vindas pelo Xi Jinping, no Grande
Palácio do Povo. Pequim - China. Foto: Ricardo Stuckert PR
A visita de Estado do presidente Lula, à frente de grande comitiva ministerial e empresarial à China, consagrou uma estrondosa associação estratégica |
A visita de Estado do presidente Lula, à frente de grande comitiva ministerial e empresarial à China, consagrou uma estrondosa associação estratégica entre as economias de dois gigantes: o Brasil e seu imponente parceiro asiático.
Como resultado direto da visita, foram abertos na China cinco mercados para produtos brasileiros, com potencial total de agregar, apenas nestes setores, 20 bilhões de dólares às exportações brasileiras.
Mais além, foram celebrados 20 acordos para a participação chinesa nos grandes projetos estruturantes deste terceiro mandato do presidente Lula: Nova Indústria Brasil, Novo Programa de Aceleração do Crescimento, Plano de Transformação Ecológica e o Programa Rotas da Integração Sul-Americana. Neste último, sinergias com a China ajudarão a viabilizar a integração das malhas de transporte do Brasil com outros países do hemisfério, facilitando rotas de comércio transcontinental, reduzindo distâncias, tempos e custos de exportação.
Sempre com transferência de tecnologia como ponto de partida, Brasil e China formaram parcerias duradouras em campos tão diversos como inteligência artificial, economia digital, transição energética, energia atômica, segurança de alimentos, "swap" de moedas locais ou agricultura familiar moderna.
Lula foi recebido em palácio por Xi Jinping e em jantar na própria residência do presidente chinês, cimentando uma aproximação que vem de longe, mas que jamais antes chegara à materialidade e amplitude de agora. Uma viagem muito proveitosa pela associação a uma economia que vem obtendo sucesso na missão de crescer, retirar populações da pobreza e sofisticar-se industrialmente com base na liderança da criação de tecnologias cada vez mais sofisticadas.
O sucesso da viagem, a desenvoltura com que Lula evolui na captação pragmática de mercados e celebração de acordos entre os dois gigantes continentais fez soar alarmes desesperados na parcela mais degenerada dos adversários do presidente Lula.
À falta do que glosar no périplo de Lula, que incluiu a suprema afronta da participação do presidente nas celebrações em Moscou dos 80 anos da vitória do Exército Vermelho contra o nazismo, a oficina venenosa da mídia agarrou-se a tentar ocultar a qualquer custo os sucessos de Lula.
A operação teve origem em um diálogo entre Lula, a primeira-dama Janja e o líder chinês Xi Jinping.
De forma pertinente, a partir de uma pergunta de Lula a Xi sobre a plataforma digital chinesa Tik-tok, Janja interveio para dizer ao líder chinês de crimes contra crianças e misoginia praticadas no Brasil por meio da plataforma.
Foi o bastante para que a partir de versão não confirmada, a mídia comercial antilulista entrasse em campo. Da maneira habitual, na continuidade dos aquários, a imprensa agiu unida e armada para atingir Janja e por meio dela tentar afetar a imagem do presidente, candidato à reeleição que, para aflição da direita, lidera as pesquisas.
O consórcio midiático agarrou-se ao episódio, distorcendo-o para destilar preconceito, machismo e fingido vexame.
Páginas de jornais, horas programas de tv e rádio, perguntas preciosas em entrevistas com o presidente foram desperdiçadas com o factoide provinciano: "A primeira-dama não poderia ter usado da palavra na ocasião formal, não poderia ter chamado a atenção de um líder estrangeiro para um tema polêmico, a China é uma ditadura". Valia qualquer argumento no cardápio da santa família dos meios de comunicação antilulistas. Até Bolsonaro foi convidado, em aliança, para integrar coro das reclamações.
Como todo escândalo baseado em informação forjada por frustração e inveja, bastou um desmentido do presidente para o caso desaparecer. O assunto deixar de ter a polêmica que se tentou imprimir e agora desaparece.
Xi deu razão a Lula e a Janja e vai enviar alguém para examinar em conjunto o tema do Tik-tok, o que tambem preocupa os próprios chineses.
Seria de se esperar que, num mundo ideal, veículos de comunicação competissem entre si pela informação mais relevante e que essa competição servisse para depurasse o que de fato vale a pena e o que não passa de lixo informativo.
No mundo real da mídia corporativa nacional, porém, a diversidade de abordagens, corolário da competição, não existe, especialmente na cobertura relativa ao governo do presidente Lula. Ali os fatos dão lugar ao lobismo, a disputa de enfoques e versões entre os veículos vira ordem de rebanho e o jornalismo entra em falência para se transmutar em campanha de divisão e destruição. Saem do foco os grandes interesses nacionais para dar lugar à mera planejada maledicência de pura e covarde índole sexista.