UFOB: o (a) trabalhador (a) e a greve pela valorização da educação federal

05 de maio de 2024 às 13:16

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Hoje para os colegas técnicos administrativos e professores do IFBA e da UFOB foi quase o 1º de maio de muitos países. Lembrei quando estive em Moçambique em 2015 e fiquei emocionado com as festividades dos moçambicanos na Universidade Eduardo Mandlane, em Chibuto.
 
O trabalhador brasileiro precisa voltar a cultivar de forma alegre o dia do trabalhador. Afinal, ainda somos de uma geração em que ganhar o pão de cada dia por meio do trabalho é motivo de orgulho para a família, para os amigos e para a sociedade. Na sociedade trabalhadora ainda há muitas pessoas honestas e dignas. Infelizmente, não posso afirmar isso para a classe política!
 

@ Arquivo pessoal
 
Como todos (a maioria) sabem estamos em greve da educação pública federal superior. As pessoas podem pensar: “o que eu tenho a ver com isso?”. Mas, quando um grupo de trabalhadores resolve deflagrar uma greve é o ponto limite... Passamos os últimos anos com cortes orçamentários brutais que colocaram a educação pública federal em situação de calamidade. 
 
- Mudaram muitas coisas ou então, mudou muita coisa.
 
As esperanças em nosso imaginário de funcionários públicos eram “Ah! Mudou de governo, vai mudar de política". Mudou muita coisa, mas, os investimentos e as restrições orçamentárias precisam ainda de uma mudança da cultura política do congresso federal e do poder executivo. A primeira delas é que verbas para a Educação pública não são gastos, mas, investimentos que podem diminuir os custos da gestão pública com saúde e violência.  A segunda é que precisamos ampliar uma consciência crítica em nossa população que não há falta de recursos no Brasil, mas, um pagamento de juros, sobre juros da dívida externa (estaduais e federais). Terceiro, que professores e técnicos administrativos precisam ser bem remunerados para trabalharem motivados e ajudar na transformação, na melhoria e manutenção da qualidade da educação pública.
 

@ Arquivo pessoal
 
A maioria da população sabe que não faltam recursos. O que falta é foco e coragem de investir na Educação. A maioria das prefeituras não pagou os precatórios. Não remunerou os seus professores e técnicos educacionais de forma satisfatória. Quando você vê um município investindo na reforma e na construção de prédios escolares, pode desconfiar que não há o equilíbrio democrático na gestão educacional. Infelizmente, há coisas acontecendo que não podemos aceitar neste início do século XXI.
 
Uma delas são gestões colonialistas na educação básica e na Educação Superior. Os profissionais da Educação merecem respeito, remuneração digna, eleições para diretores nas escolas municipais, eleições nas universidades com ampla concorrência de forma democrática e gestões com mais sensibilidade humana. 
 
Quem precisa dos nossos conhecimentos não é apenas a Plataforma Lattes! Mas, quem precisa é o agronegócio, são as indústrias, o comércio e toda a sociedade! Então, sem uma educação contextualizada de nível básico e superior se torna difícil imaginar um futuro sustentável aqui no Oeste da Bahia. 
 
Diante deste contexto, fomos às ruas de Barreiras compartilhar parte das nossas insatisfações e reivindicações. Confesso que foi uma experiência incrível. É incrível devido também termos voltado de um período pandêmico e devido à loucura de trabalho, muitos de nós já não nos conhecemos mais dentro das próprias instituições que trabalhamos.
 
Aqui é importante refletirmos: o IFBA, a UFOB e as escolas municipais e estaduais não podem ser uma fábrica de produção de transeuntes (pessoas) formados/qualificados. Quando formamos um sujeito ele pode ser e exercer diversas funções na sociedade do agora e do futuro!
 

@ Arquivo pessoal
 
 
Então, por isso que temos de lutar por uma educação pública de qualidade. 
 
Hoje para aqueles e aquelas colegas que tiveram a disposição de vir participar e compartilhar dessa experiência, desfrutamos de uma vivência, de um tempo para trocarmos experiências e saberes. Foram momentos importantíssimos, não só para a melhoria das relações humanas, mas, para as pesquisas acadêmicas, para a produção dos materiais didáticos, para fortalecermos as parcerias para as extensões.

O primeiro ponto que gostaria de destacar é que a greve se torna um laboratório de fortalecimento dos laços humanos. Sendo assim, quando conseguimos nos reunir, técnicos administrativos com professores (as) da UFOB e técnicos administrativos e professores do IFBA temos uma explosão de possibilidades humanas. Começamos a perceber que estamos dentro de uma gaiola fordista com muitas aulas, muitas reuniões, muito trabalho formativo, mas, que precisamos voar e ter as condições de voar junto com a sociedade.
 
O segundo ponto é a ampliação do nosso contato com a sociedade civil. Eu sempre tive comigo que não trabalho para a UFOB. Eu trabalho para a sociedade do Oeste da Bahia. Confesso que esse meu sentimento, me fez nestes 13 anos que estou aqui na UFOB nunca desanimar, nunca deixar que a burocracia institucional me tirasse o entusiasmo de entrar em sala de aula, de realizar as minhas orientações e também de desenvolver os projetos de extensão e de pesquisa.
 
Então, hoje quando volto na Feira de Barreiras, não enquanto um simples consumidor (que fica conversando com os feirantes para saber onde e como produzem), mas, enquanto um professor que fazia panfletagem foi muito importante observar as reações da população: 
 
    - 1. O olhar de susto pois, se somos funcionários públicos federais estamos em boa situação, somos ricos, as nossas instituições estão recheadas de recursos;

    - 2. O olhar e as expressões de acolhimento e de apoio às nossas causas;

    - 3. As expressões com o L revelando uma das expressões da manipulação que as Fake News da extrema direita provocaram, ao dizer que as nossas universidades estavam dominadas pelo marxismo cultural, desse modo todos seriam eleitores de Lula e agora não poderíamos reivindicar do governo em exercício. 
 
Para mim, aqueles (as) colegas que foram às ruas hoje fizeram um trabalho extraordinário para a construção democrática. Sair, reunir e participar de um movimento como fizemos hoje é um grito rumo à conscientização.
 

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Uma conscientização em via dupla, um vai e vem... Afinal, quando fomos à Feira de Barreiras, quando trocamos ideias com os nossos colegas percebemos também o tanto que podemos contribuir mais para uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais consciente. Também que podemos contribuir para combater as “monoculturas das mentes”, bem como para combater a cultura do medo de lutar pelos seus direitos, pelos nossos direitos, independentemente do partido político, do governo e de quem estiver no poder. 
 
Em síntese, hoje foi um 04 de maio com cheiro e gosto de 1º de maio. Não podemos deixar que os poderes executivos e legislativo nos roubem as conquistas e os símbolos da classe trabalhadora. Festejar e reivindicar melhores condições de trabalho e reposição salarial não pode ser visto como ameaça de perder o emprego no setor do comércio e da indústria, mas, também não pode ser visto como ameaça para aqueles (as) que recebem um CD (funções gratificadas dentro do IFBA e da UFOB) dentro dos órgãos públicos federais, estaduais e municipais. 
 
Afinal, o reitor, o vice-reitor, os pró-reitores, os diretores de Centro e os demais colegas que possuem funções gratificadas não devem ficar envergonhados, (muito menos com medo) de participar da luta em prol da educação, pois, na minha concepção, todos somos funcionários públicos e os nossos serviços são contratados pelos impostos daqueles homens e mulheres simples da feira do Centro de Barreiras, mas também daqueles homens e mulheres de caminhonetes Hilux e carros importados que passavam com o olhar de espanto ou com os vidros fechados, diante da nossa movimentação no centro de distribuição de alimentos “Feira de Sábado do Centro de Barreiras”.
 

@ Arquivo pessoal
 
A greve está só no início! As reivindicações não são apenas voltadas para a reposição salarial. Mas, para a reposição do orçamento público federal para a Educação pública gratuita e com mais qualidade! 
 
Por fim, o propósito é aproveitarmos a greve também para chamar a sociedade civil para refletir qual o impacto do IFBA e da UFOB na sociedade de Barreiras? Como podemos impactar mais positivamente? Será que temos condições de trabalho para realizarmos uma educação mais contextualizada? Acredito que essas reflexões são anseios de muitos dos colegas que estiveram nas ruas hoje, mas, também daqueles que não puderam ir ou que ainda estão com medo de participar do movimento grevista!

Por Dr. Valney Dias Rigonato. Professor do Curso de Geografia e do Programa de Pós-Graduação de Ensino. Tutor do PET-Humanidades. Membro da Academia Barreirense de Letras – Cadeira 30. Autor de livros, artigos científicos e contos/poesias.