Hábito de enrolar o bebê para dormir traz riscos, alertam os médicos

09 de abril de 2024 às 18:10

saúde/agência einstein
É muito fácil encontrar nas redes sociais vídeos ensinando técnicas para o bebê não chorar, ficar calmo e dormir melhor. Mas envolver o corpo do recém-nascido em um cueiro, uma manta ou uma toalha fralda pode ser perigoso e trazer prejuízos para o desenvolvimento da criança. Estudos mostram, inclusive, que o uso de pano para oferecer essa “contenção gentil” para simular o ambiente uterino pode aumentar o risco de morte súbita.
 

Reprodução/Agência Einstein

Conhecida como casulo ou charutinho, a
técnica que promete “acalmar” o recém-nascido
pode ser perigosa e aumentar o
risco de morte súbita 
 
Um dos estudos feitos na Universidade de Bristol, no Reino Unido, analisou 283 artigos sobre o assunto e concluiu que a técnica aumenta os riscos de morte súbita independentemente da posição na qual o recém-nascido é colocado para dormir. A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é deixar o bebê sempre dormir de barriga para cima e sem o uso de cobertores, protetores de berço e outros itens próximos, como bichos de pelúcia.
 
O trabalho revelou que o problema é mais sério em bebês que começam a rolar no berço, o que acontece entre os 4 e os 6 meses de vida, pois ele pode se mover e ficar de bruços sem conseguir voltar à posição original por estar amarrado. Além disso, em qualquer idade ele pode se sufocar, com algum objeto que obstrua seu nariz ou sua boca durante o sono, e não ter a possibilidade de se desvencilhar, por não ter mobilidade.  
 
Outra análise de estudos a respeito do tema, realizada por médicos do hospital universitário da Universidade de Utrecht, na Holanda, confirmou a relação entre o uso do charutinho e a morte súbita e chamou a atenção para outros pontos importantes, que merecem a atenção dos pais.
 
O famoso charutinho pode atrapalhar o desenvolvimento psicomotor e o processo de descoberta do próprio corpo, já que compromete a movimentação, impedindo que ele leve a mão à boca, por exemplo, e ainda pode provocar hipertermia, quando a temperatura do corpo sobe demais. O levantamento também mostra que a técnica pode causar atraso no ganho de peso e problemas respiratórios caso o tecido esteja apertado demais sobre a região do peito. 
 
O levantamento mostrou, inclusive, que a técnica pode causar problemas ortopédicos. “Amarrar as crianças com os quadris e os joelhos estendidos, como costuma acontecer, faz uma força contrária à posição fisiológica da parte inferior do corpo nessa fase da vida, o que pode desencadear uma luxação ou mesmo a malformação dos quadris, especialmente se o tecido estiver muito apertado e o procedimento se repetir durante muito tempo”, alerta o ortopedista pediátrico Luiz Renato Agrizzi de Angeli, médico colaborador do Grupo de Ortopedia Pediátrica da Universidade de São Paulo e revisor da revista científica International Journal of Children’s Orthopaedics.
 
A técnica não ajuda o bebê a dormir mais 
 
Muitos especialistas chamam a atenção para o fato de que enrolar o bebê pode fazer com que ele associe o processo ao sono e se acostume a dormir apenas dessa maneira, tendo dificuldade para descansar de outra forma. 
 
O pediatra Cláudio Schvartsman, professor livre docente de pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e vice-presidente da mesa diretora do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que a técnica não vai ajudar o bebê dormir mais e melhor. “Além disso, essa teoria, que é intuitiva, não faz muito sentido, pois ela não simula a forma como o bebê ficava no útero. Dentro do corpo da mãe, ele tinha liberdade de movimentação, já que não ficava imobilizado, e vivia em ambiente aquático”, diz.  
 
Por todas essas razões, apesar de o hábito existir há muitos séculos em diversos países e se mostrar acalentador em alguns casos, o ideal é não enrolar o bebê para dormir, a não ser sob a orientação e a supervisão de um especialista.
 
 
Por Thais Szegö, da Agência Einstein